O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) é um molusco bivalve exótico originário de parte da China e do sudeste Asiático. Possui grande capacidade de reprodução e dispersão, principalmente pelo fato de praticamente não possuir predadores naturais na fauna brasileira. A espécie chegou à América do Sul, possivelmente de maneira acidental, através da água de lastro de navios cargueiros no início da década de 90, tendo sido a Argentina o ponto de entrada ao Brasil. O primeiro registro do molusco em águas interiores brasileiras foi em 1998, no Rio Grande do Sul, por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, junto ao delta do rio Jacuí, em frente ao porto de Porto Alegre. Hoje já está presente, em grandes densidades, na lagoa Guaíba e nos rios Paraguai e Paraná, e mesmo na região do Pantanal. Sua dispersão se dá por diversos meios, envolvendo diferentes fases do seu ciclo de vida, fase larval e fase adulta.
A larva do mexilhão-dourado é muito pequena, e por isso invisível a olho nu. Ainda que ela possa nadar, a maior parte de seu deslocamento ocorre de modo passivo, ou seja, ela é levada pelas correntes aquáticas, aderida em cascos de embarcações, redes, conchas ou qualquer item que retenha uma determinada umidade. Pode ser dispersada até mesmo pela água do esgoto, quando transtornadas inconscientemente na água que utilizada em viveiros ou baldes de iscas para pesca, e até na água acumulada no sistema de refrigeração do motor do barco, descartada posteriormente em vias ou residências com sistema de drenagem pluvial e/ou afastamento de esgoto. A dispersão dos adultos é feita pelo seu transporte em cascos de embarcação, redes, conchas, galhos e outros objetos lançados ou presentes na água. Quando a concha está fechada, o mexilhão pode sobreviver bastante tempo fora da água. Quase todas as atividades que envolvem a água de rios e lagos que tenham a presença do molusco, podem ser via de transporte do mexilhão para outros locais, alguns ainda não contaminados. Depois que as colônias estão instaladas, é impossível erradicá-las com os recursos e os conhecimentos atuais.
A partir fase adulta, o mexilhão dourado é capaz de se fixar em praticamente qualquer tipo de substrato submerso, possuindo, ainda, grande capacidade de adaptação ao ambiente local, com rápida taxa de crescimento e grande força reprodutiva. Devido à característica gregária, formam macroaglomerados volumosos de indivíduos.
A invasão biológica desta espécie tem causado impactos ambientais e econômicos, provocando alterações estruturais e funcionais nos ecossistemas e prejuízos às atividades humanas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e, por último, na Região Nordeste, devido à recente detecção na Bacia do Rio São Francisco.
Dentre os prejuízos causados pelo mexilhão-dourado, podemos citar:
- Danos a vegetação aquática;
- Ocupação do espaço e disputa por alimento com os moluscos nativos;
- Prejuízos à pesca, já que a diminuição dos moluscos nativos diminui o alimento dos peixes;
- Entupimento de canos e dutos de água, esgoto e irrigação;
- Entupimento de sistemas de tomada de água para geração de energia elétrica (Usinas Hidrelétricas), causando interrupções frequentes para limpeza e encarecendo a produção;
- Prejuízos à navegação, com o comprometimento de boias, trapiches, motores e de estruturas das embarcações.
- Prejuízos à sistemas de produção aquícola em tanques-rede, encrustando e causando danos estruturais de gaiolas e flutuadores.
Monitoramento e controle
A Kinross desenvolve um plano de monitoramento do molusco invasor para detecção precoce através de campanhas semestrais, com coleta de água para análise e detecção de indivíduos do mexilhão nas formas larvais, e ou mesmo adultas, nos sistemas de adução de água de resfriamento nas estruturas internas do barramento (casa de força) em áreas adjacentes do reservatório (montante), canais de fuga e restituição (jusante).
Durante as campanhas de monitoramento do mexilhão dourado realizadas em dezembro de 2020, foram detectados os primeiros indícios da presença do molusco na UHE Barra dos Coqueiros, em Cachoeira Alta, sendo que o mexilhão dourado já se encontra estabelecido na bacia do rio Paraná há décadas. A ocorrência foi devidamente registrada e apresentada ao órgão ambiental por meio dos relatórios de monitoramento para o cumprimento das condicionantes ambientais e, a partir desta identificação, foram estabelecidas rotinas diferenciadas de monitoramento incluindo um mapeamento para melhor acompanhamento da distribuição do mexilhão dourado nas áreas industriais, reservatórios e adjacências imediatamente a jusante dos barramentos. Em paralelo à intensificação das atividades de controle, foi realizada a contratação de uma consultoria especializada para diagnosticar os níveis de infestação e proposição de medidas mitigatórias.
Entre os meses de agosto e setembro de 2021, foi realizado um diagnóstico da ocorrência e invasão do mexilhão dourado nas UHEs de Caçu e Barra dos Coqueiros, cujo relatório final apresentou os dados de campo confirmando a invasão do mexilhão dourado na Usina Hidrelétrica de Barra dos Coqueiros, com evidente disseminação de colonização da espécie em diferentes compartimentos, estruturas da usina e do reservatório. Existem registros indicando a presença do molusco na região da foz do rio Claro e rio Paranaíba, corroborando quanto ao avanço do processo de invasão do molusco. Na UHE Caçu, não foram detectados estágios iniciais de colonização, mas devido à proximidade entre os reservatórios, o estudo pode apontar para presença de propágulos do molusco, que induz a uma tentativa de estabelecimento.
É fundamental que as medidas de controle do processo de invasão sejam tomadas de forma conjunta. Nas hidrelétricas de Caçu e Barra dos Coqueiros, foram estabelecidos procedimentos de desinfecção e higienização principalmente de equipamentos e dispositivos intercambiáveis, embarcações, entre outros.
Para controlar a disseminação do mexilhão dourado, você pode contribuir da seguinte forma:
- Examine periodicamente seu barco e raspe as incrustações que encontrar, descarte de forma adequada longe da água;
- Retire a água acumulada no fundo do barco ou em outras partes do mesmo, descartando-a em terra firme;
- Lave a embarcação com solução de água sanitária antes de colocá-lo em outras águas.
- Descarte a água das iscas vivas em terra, longe de rios, lagos, galerias de drenagem e esgotos;
- Limpe os petrechos de pesca com solução de água sanitária caso vá usá-los em outro local.
Categoria: Meio Ambiente